quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Tic-Tac


É noite, só tenho a luz que espreita pela janela, reflectida pela torre do relógio.
Consigo ouvir dentro de mim os ponteiros a moverem-se. Oiço cada engrenagem que geme entre cada esforço, que range por cada grão de ferrugem que liberta.
Esta noite, que em tons pálidos me retrata, esquece o mundo e os homens, esquece o tempo e as vontades. Passa, não... permanece inerte no tempo e no espaço, sem vida ou cor. Nem os sons se atrevem a sussurrar. Nem as luzes se atrevem a brilhar. Nem há vento, pois o ar recusa-se a ser movido.
Como posso eu ser diferente do cenário se dele faço parte? Como posso eu percorrer um caminho, se o chão não vejo? Como posso recusar este cenário que vejo se ele nasce dentro de mim?
E a mim, em pesadas sombras escondido, resta-me estar, resta-me ser, resta-me sonhar.


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