segunda-feira, 25 de abril de 2011

Não tenho vida em mim



Não tenho vida em mim
Não tenho céu nem asas
Não guardo a chama e o fogo
Nem o tempo que passa

Guardo apenas
O vazio de ti
Neste corpo dormente
De braços atados

Não tenho sede nem fome
Nem sentido de mim
Levaste tudo contigo
E eu morro por dentro

Guarda-me as palavras
Os sonhos e os pensamentos
E sente em ti
O que eu tenho por dentro

Leva-me o meu ser
Sente o meu querer
Mas devolve o meu mundo
Contigo lá dentro

domingo, 10 de abril de 2011

Silêncios



Descobri que há vários tipos de silêncio.

Há um silêncio que sai do vazio.
Começa por ser triste, mas afinal é apenas desprovido de qualquer motivo para alegria.
É um silêncio que faz ecos mortos pela casa até ser apenas um zumbido, até ser novamente silêncio.
É frio, estranha-se no corpo.
É o silêncio que se instala quando partes.

Há um silêncio diferente, cheio de sons, com uma dinâmica que vem de dentro.
Os sons ganham corpo, dão contexto à acção, aos gestos, ao estado de alma.
E quando o silêncio volta ele brilha, tem algo de quente e espectante.
É preenchido por coragem e medo, oscilando no tempo que passa devagar.
É o silêncio que antecede o teu regressso.

Há um outro silêncio.
Ele é emotivo e feliz. Quente e febril.
Mas é curiosamente doloroso enquanto se liberta lentamente o peso do peito e sente a paz instalar.
É o silêncio de teu regresso e do teu corpo enquanto te abraço.

Há um silêncio calmo, aconchegante.
Preenchido de sentimentos simples mas completos, fáceis mas perfeitos.
Há uma fúria calma, um caos controlado, uma ordem sem regras.
É toda uma montanha de momentos, sentimentos e sensações que se completam.
Que se encontram em pleno equilibrio, forte mas delicado.
É o silêncio da tua presença, aqui ao meu lado.

Há um silêncio ambíguo.
É um silêncio traiçoeiro, que tem tanto de bom como de seguida fere devagar.
Que ora é esquecido, ora volta a magoar, que quebra a paz.
É o silêncio das horas que se precipitam para o momento em que terás de partir.

Há um silêncio que é dor.
Que é tristeza instalada. Que não tem palavras de alívio ou compaixão.
É um silencio sem remédio ou solução.
É curto mas interminável, e doi, doi fundo na alma.
É o silêncio do momento da tua despedida.

E todo o restante silêncio é um turbilhão.
Medo, dúvida e desespero...
Luta, raiva e tristeza...
Cansaço, dor e apatia...
E há um momento de silêncio em que tudo volta, e tudo se repete,
sem que eu saiba qual silêncio eu vou ter por fim...


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Não desistas de mim...



A porta fechou-se contigo
Levaste na noite o meu chão
E agora neste quarto vazio
Não sei que outras sombras virão
E alguém ao menos me diz

Há um perfume que ficou na escada
E na TV o teu canal está aberto
Desenhos de corpos na cama fechada
São um mapa de um passado deserto
Eu sei que houve um tempo em que tu e eu
Fomos dois pássaros loucos
Voamos pelas ruas que fizemos céu
Somos a pele um do outro

Não desistas de mim
Não te percas agora
Não desistas de mim
A noite ainda demora

Ainda sei de cor o teu ventre
E o vestido rasgado de encanto
A luz da manha e o teu corpo por dentro
E a pele na pele de quem se quer tanto

Não tenho mais segredos
Escondi-me nos teus dedos
Somos metades iguais
Mas hoje, só hoje
Leva-me para onde vais
Que eu quero dizer-te

Não desistas de mim
Não te percas agora
Não desistas de mim
A noite ainda demora

E não desistas de mim
Não te percas agora

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by Pedro Abrunhosa