sexta-feira, 29 de maio de 2009

Absinto




Existência pálida e sombria
Memórias reminiscentes de uma vida perdida
reflectidas no presente desse rosto inerte
Por entre gritos sem significados concretos,
por entre copos de absinto,
lamentas o que nunca foi, o que nunca sentiste

Uma triste alma mora nesse corpo débil
E só quer esquecer o que sempre conheceu
Numa ausência cruel de vida
Que nem a morte aparece, libertadora
Percorres o obscuro do teu ser
Para encontrar uma razão que te faça ser alguém

Desse lugar onde estás não há como fugir
Não podes desistir de uma desistência perante a vida
Não podes caminhar sem que a alma presa em ti
te faça sentir dor, e essa angústia no peito,
e esses gritos mudos que não te moldam a expressão.
Tens que deixar sair... mas só lutas para esquecer.



--- Quadro: "Absinto", Degas ---

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Hope there's someone...




Hope there's someone
Who'll take care of me 
When I die, will I go

Hope there's someone
Who'll set my heart free 
Nice to hold when I'm tired

There's a ghost on the horizon 
When I go to bed 
How can I fall asleep at night 
How will I rest my head

Oh I'm scared of the middle place 
Between light and nowhere 
I don't want to be the one 
Left in there, left in there

There's a man on the horizon 
Wish that I'd go to bed 
If I fall to his feet tonight 
Will allow rest my head

So here's hoping I will not drown 
Or paralyze in light 
And godsend I don't want to go 
To the seal's watershed

Hope there's someone
Who'll take care of me 
When I die, Will I go

Hope there's someone
Who'll set my heart free 
Nice to hold when I'm tired 


Antony and the Johnsons, from "I'm a Bird Now"

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Longe





Ouves-me? Tento fazer a minha voz chegar até ti. Olhas o mar, olhas o fundo do mar com toda a atenção. Sentes cada leve ondulação que ora trás o mar mais perto, ora leva o mar mais longe. Sentes como se fosse no teu corpo. E o som, de uma brisa que teima quebrar a monotonia, que se mistura com as ondas que tentam subir as areias em vão e trazem as pedras consigo de volta ao mar. Eu vejo o que tu sentes, porque te sinto. E, por mais que queira, a distância até ti não muda. Por mais passos que dê na tua direcção, vejo-te sempre ao longe. E não consigo quebrar esta melancolia, este silêncio, esta tristeza que paira no ar e que tanto pesa. Dói-me não perceber se sabes que estou aqui, dói-me por cada lágrima que deixas cair, morro por cada suspiro que treme ao sair do teu peito. Quando olhares para trás, vem, procura a minha voz.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Renasce




Não sei porque escrevo
Sei que há coisas que têm que ser ditas
Coisas que não se explicam mas estão aqui.
Sentimo-las como se fossem gente
Quase falamos com elas, quase choramos com elas.
Mas são coisas, são palavras sem som
São ideias que não se pensam.
E quando essas coisas ganham forma e cor
Quando as conseguimos ouvir cheias de vida
São como uma chuva de luz na escuridão negra
Como se renascesse em mim uma inocência perdida.